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sábado, 14 de agosto de 2010

Vampiros – os mitos e a história real

      Após cerca de 500 pessoas terem sido mordidas por morcegos vampiros, a Autoridade de Saúde do Peru enviou equipas de emergência para combater o surto de raiva disseminado pelos morcegos vampiros que vão atacando mamíferos durante o seu sono.

      Os morcegos, da região da Amazónia, já mataram 4 crianças da tribo Awajun e morderam 500 pessoas, que entretanto foram vacinadas contra a raiva. A maioria das pessoas da população afetada foram já vacinadas pelas equipas médicas.
       Estes morcegos, atacam normalmente animais selvagens e gado, mas em zonas mais desflorestadas atacam por vezes os humanos. 
     Das três espécies de morcegos vampiros que existem actualmente, apenas uma (a mais comum - Desmodus rotundus) preda exclusivamente mamíferos. As outras duas – Diaemus youngi e Diphylla ecaudata – alimentam-se de diversos vertebrados, preferencialmente aves. Ao contrário do que a indústria cinematográfica nos levou a acreditar, os vampiros são animais muito pequenos e leves. Vivem em grutas, minas, buracos de árvores e em edifícios abandonados, em colónias com cerca de 100 animais, mas que podem chegar aos 2000 indivíduos.
     São voadores rasos e fazem manobras espantosas, devido às suas longas e estreitas membranas alares. Contrariamente aos outros morcegos, os vampiros são grandes adeptos da locomoção no solo, sendo capazes de correr com grande velocidade e dar grandes saltos, assumindo uma postura bípede. Eles procuram as suas vítimas durante a noite, podendo voar mais de 10 km nas suas buscas. Exatamente como localizam e seleccionam presas individuais é desconhecido, mas certamente diversos fatores estão envolvidos, nomeadamente a sua excepcional visão. Adicionalmente, as fossas nasais sensíveis ao calor permitem-lhes detectar as presas através da radiação infravermelha por elas emitida e escolher as áreas do corpo com melhor irrigação superficial e, por isso, mais “apetitosas”.
     A especialização alimentar condicionou a anatomia e fisiologia dos vampiros. Eles possuem um estômago fino, capaz de se distender e um intestino rodeado de grandes capilares que aumentam a taxa de absorção. Mas a adaptação mais espantosa prende-se com a composição da saliva, constituída por três ingredientes ativos, que mantêm o sangue fluído - um anticoagulante, uma substância química que previne a aglutinação dos glóbulos vermelhos e uma última que inibe a constrição dos vasos sanguíneos sob a ferida. A mordedura é rápida, de modo a não alertar as presas, e o sangue é lambido (e não sugado) através de movimentos rápidos e contínuos da língua, durante cerca de 30 minutos. Durante este período, os morcegos ingerem o equivalente a duas colheres de sopa de sangue. Porque o sangue tem cerca de 80% de água, à medida que se alimentam os vampiros urinam, removendo o excesso deste líquido.
     Vivem numa cultura fortemente social, onde o reconhecimento individual é muito importante. Uma vez que não podem sobreviver mais de dois dias sem uma refeição, estes laços são fundamentais para lhes garantir a sobrevivência, pois um vampiro pode alimentar outro com regurgitações de sangue, quando solicitado. Este comportamento é bastante vantajoso em termos adaptativos, tal como acontece com a sua capacidade de adoptar crias órfãs. É um altruísmo recíproco, muito raro entre os mamíferos, conhecido apenas nos cães selvagens, nas hienas, nos chimpanzés e nos humanos.
    Os hábitos alimentares dos vampiros, que à primeira vista nos parecem repulsivos, podem de facto resolver ou atenuar alguns dos nossos problemas. Descobertas recentes acerca das propriedades anticoagulantes da saliva dos vampiros demonstram que esta possui um ingrediente vinte vezes mais poderoso que qualquer anticoagulante actualmente conhecido, o que promete o desenvolvimento de novos medicamentos de prevenção e combate de doenças cardiovasculares.
   Mas apesar de serem animais verdadeiramente fascinantes, os vampiros podem criar alguns problemas, nomeadamente quando existem em grandes densidades junto de pessoas e animais domésticos. Mordeduras ocasionais raramente prejudicam as vítimas, mas mordeduras repetidas, especialmente em animais jovens, podem enfraquecê-los, enquanto as feridas podem tornar-se focos de infeção. Para além deste aspecto, tal como outros animais, é possível que os vampiros contraiam raiva. Apesar da maior parte dos morcegos infectados acabar por morrer da doença, alguns poderão sobreviver o tempo suficiente para infectar as suas presas. Em muitas regiões da América Latina as perdas económicas dos agricultores provocadas, anualmente, por surtos desta doença nos bovinos, são imputadas aos ataques dos vampiros.
    Quando os vampiros não encontram o seu alimento de eleição, podem utilizar presas alternativas, como os humanos, embora isto só aconteça a pessoas que dormem ao relento. Estes episódios, embora esporádicos, e na maior parte das vezes sem consequências, são suficientes para criar um clima de histeria coletiva, despoletando verdadeiras “caças aos vampiros”, que acabam por atingir todos os morcegos da área. Ao longo das últimas três ou quatro décadas, foram iniciados na América Latina programas de controlo de vampiros. Infelizmente, os resultados resumem-se à perda incalculável de insetos altamente benéficos para a agricultura, devido à utilização de venenos, e de morcegos inofensivos, que se alimentam de frutos e néctar, muitos dos quais já se encontram em perigo de extinção.
     Será apenas através de programas educativos que a atitude pública perante os morcegos poderá ser alterada. Quanto aos conflitos entre o ser humano e os vampiros, para além de acções educativas, restam-nos campanhas de controlo bem planeadas. No entanto é importante lembrar que o atual comportamento alimentar dos vampiros é apenas uma adaptação às alterações dos seus habitat provocadas pelo Homem.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cientistas alertam para possível disseminação de "superbactéria"

Por Kate Kelland e Ben Hirschler.
LONDRES (Reuters) - Um novo supermicrorganismo pode se espalhar pelo mundo após viajar da Índia à Grã-Bretanha e os cientistas afirmam que quase não há drogas para combatê-lo.
Os pesquisadores anunciaram na quarta-feira terem encontrado um gene novo chamado NDM-1 em pacientes do sul da Ásia e da Grã-Bretanha.
O NDM-1 torna a bactéria altamente resistente a quase todos os antibióticos, incluindo os da classe mais potente, chamados carbapenemas. Os especialistas afirmam que não há drogas novas no horizonte para combatê-lo.
Com o aumento do turismo médico internacional em busca de tratamentos mais baratos, em especial para procedimentos como cirurgia cosmética, Timothy Walsh, que chefiou o estudo, disse temer que a nova superbactéria se espalhe em breve pelo planeta.
"No nível global, essa é uma preocupação real", disse Walsh, da Cardiff University, na Grã-Bretanha, numa entrevista por telefone.
"Por causa do turismo médico e das viagens internacionais em geral, a resistência desses tipos de bactérias tem o potencial de se espalhar pelo mundo muito, muito rápido. E não há nenhum projeto de desenvolvimento de drogas em andamento para combatê-lo", acrescentou.
Tão logo o primeiro antibiótico -- a penicilina -- foi introduzido na década de 1940, as bactérias começaram a desenvolver resistência a seus efeitos, levando os pesquisadores a desenvolverem novas gerações de antibióticos.
Mas o uso excessivo e incorreto deles ajudou a alimentar o crescimento das infecções por "superbactérias" resistentes, como o "Staphyloccus aureus" resistente a meticilina (MRSA).
Em um estudo publicado na revista The Lancet Infectious Diseases na quarta-feira, a equipe de Walsh descobriu que o NDM-1 está se tornando mais comum em Bangladesh, na Índia e no Paquistão e está sendo importado para a Grã-Bretanha em pacientes retornando ao país após tratamentos de saúde.
"A Índia também fornece cirurgia cosmética a outros europeus e norte-americanos, e é provável que o NDM-1 se dissemine pelo mundo", escreveram os cientistas no estudo.
Walsh e sua equipe internacional coletaram amostras de bactérias de pacientes de hospital em dois locais na Índia (Chennai e Haryana) e de pacientes indicados ao laboratório de referência nacional da Grã-Bretanha entre 2007 e 2009.
Eles encontraram 44 bactérias positivas para o NDM-1 em Chennai, 26 em Haryana, 37 na Grã-Bretanha, e 73 em outros locais de Bangladesh, Índia e Paquistão. Diversos pacientes britânicos positivos para o NDM-1 haviam viajado recentemente para a Índia ou ao Paquistão para tratamento em hospital, incluindo cirurgias cosméticas, afirmaram eles.
O mais preocupante, as bactérias produtoras de NDM-1 são residentes a muitos antibióticos, incluindo os carbapenemas, afirmaram os cientistas, uma classe de drogas reservadas em geral para uso emergencial e para tratar infecções causadas por outros microrganismos multi-resistentes como o MRSA e o C-Difficile.

domingo, 8 de agosto de 2010

Estudo diz que humanos partilham genes com as esponjas


Sex, 06 Ago, 08h10
SYDNEY, Austrália (AFP) - Pode ser que a humanidade descenda do macaco, mas cientistas australianos encontraram provas de relações muito mais estreitas do homem com o solo submarino, em um estudo que revela que as esponjas do mar compartilham quase 70% de genes com os humanos.
A sequência genética das esponjas do mar na Grande Barreira de Recifes da Austrália mostrou que esse animal aquático invertebrado compartilha muito de seus genes com os humanos, incluindo um grande número de genes associados com doenças como o câncer.
A descoberta pode proporcionar novas bases de descobertas em relação ao câncer e a pesquisas com células-tronco, afirmou o chefe do estudo, Bernard Degnan, da Universidade de Queensland, Austrália.
"As esponjas têm o que consideramos o 'Santo Graal' das células-tronco", afirmou Degnan.
Explorar as funções genética das células-tronco das esponjas poderá revelar "relações profundas e importantes" con os genes que influenciam a biologia das células-tronco humanas.
"Pode, inclusive, modificar a forma em que pensamos nossas células-tronca e como poderíamos usá-las em futuras aplicações médicas", explicou.
O estudo, publicado pela revista Nature esta semana, é o resultado de mais de cinco anos de pesquisas de uma equipe internacional de cientistas.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Código Florestal - Revisão não tem sustentação Científica.


 A Revisão do Código Florestal brasileiro, em votação no Congresso Nacional, está provocando sérias preocupações na comunidade científica e suscitando diversas manifestações no Brasil e no exterior.
Com uma possível aprovação do relatório que propõe mudanças na legislação ambiental, o Brasil estaria "arriscado a sofrer seu mais grave retrocesso ambiental em meio século, com consequências críticas e irreversíveis que irão além das fronteiras do país", segundo carta redigida por pesquisadores ligados ao Programa Biota-FAPESP e publicada na sexta-feira (16/7), na revista Science.
O texto é assinado por Jean Paul Metzger, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), Thomas Lewinsohn, do Departamento de Biologia Animal da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luciano Verdade e Luiz Antonio Martinelli, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da USP, Ricardo Ribeiro Rodrigues, do Departamento de Ciências Biológicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, e Carlos Alfredo Joly, do Instituto de Biologia da Unicamp.
As novas regras, segundo eles, reduzirão a restauração obrigatória de vegetação nativa ilegalmente desmatada desde 1965. Com isso, "as emissões de dióxido de carbono poderão aumentar substancialmente" e, a partir de simples análises da relação espécies-área, é possível prever "a extinção de mais de 100 mil espécies, uma perda massiva que invalidará qualquer comprometimento com a conservação da biodiversidade".
A comunidade científica, de acordo com o texto, foi "amplamente ignorada durante a elaboração" do relatório de revisão do Código Florestal. A mesma crítica foi apresentada em carta enviada por duas das principais instituições científicas do país, no dia 25 de junho, à Comissão Especial do Código Florestal Brasileiro na Câmara dos Deputados.
Assinada por Jacob Palis e Marco Antonio Raupp, respectivamente presidentes da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), a carta defende que o Código Florestal, embora passível de aperfeiçoamentos, é a "peça fundamental de uma legislação ambiental reconhecida com uma das mais modernas do mundo".
A reformulação do código, segundo o texto, baseia-se na "premissa errônea de que não há mais área disponível para expansão da agricultura brasileira" e "não foi feita sob a égide de uma sólida base científica, pelo contrário, a maioria da comunidade científica não foi sequer consultada e a reformulação foi pautada muito mais em interesses unilaterais de determinados setores econômicos".
Entre as consequências de uma aprovação da proposta de reformulação, a carta menciona um "aumento considerável na substituição de áreas naturais por áreas agrícolas em locais extremamente sensíveis", a "aceleração da ocupação de áreas de risco em inúmeras cidades brasileiras", o estímulo à "impunidade devido a ampla anistia proposta àqueles que cometeram crimes ambientais até passado recente", um "decréscimo acentuado da biodiversidade, o aumento das emissões de carbono para a atmosfera" e o "aumento das perdas de solo por erosão com consequente assoreamento de corpos hídricos".



No dia 16 de junho, as lideranças da Câmara dos Deputados também receberam carta do geógrafo e ambientalista Aziz Nacib Ab'Sáber - professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP -, que fez duras críticas ao relatório de reformulação da legislação.
Reconhecido como um dos principais conhecedores do bioma amazônico, Ab'Sáber defendeu que, "se houvesse um movimento para aprimorar o atual Código Florestal, teria que envolver o sentido mais amplo de um Código de Biodiversidades, levando em conta o complexo mosaico vegetacional de nosso território". Segundo o geógrafo, a proposta foi apresentada anteriormente ao Governo Federal, mas a resposta era de que se tratava de "uma ideia boa mas complexa e inoportuna".
No documento, Ab'Sáber afirma que "as novas exigências do Código Florestal proposto têm um caráter de liberação excessiva e abusiva". Segundo ele, "enquanto o mundo inteiro repugna para a diminuição radical de emissão de CO2, o projeto de reforma proposto na Câmara Federal de revisão do Código Florestal defende um processo que significará uma onda de desmatamento e emissões incontroláveis de gás carbônico".

Fonte: Agência FAPESP - Fábio de Castro.